O envelhecimento do cérebro é um tema que intriga não só os leigos, mas também os pesquisadores especialistas em neurologia ao redor de todo o mundo, pois, trata-se de um órgão que, querendo ou não, acaba por definir a sua presença no mundo, uma vez que, sem o funcionamento do cérebro, não há vida, de acordo com a definição da ciência, ainda que os demais órgãos ainda se encontrem em perfeito estado de funcionamento. Sendo assim, o que se imagina é que ao promover o adiamento do envelhecimento cerebral, possuímos um grande avanço para a manutenção da longevidade e a propagação da vida.
Além disso, o funcionamento pleno do cérebro é o que garante a independência física, ou seja, o envelhecimento geralmente prejudica algumas funções cerebrais e é o que acaba gerando a dependência de muitas pessoas ao se tornarem idosas, uma vez que reflexos e motricidade podem se alterar em diferentes níveis, além da questão de nível de consciência, que pode estar alterado em grande parte pelo acometimento dos diversos tipos de demências que existem. No entanto, é possível que se obtenha um envelhecimento saudável, isto é, o envelhecimento não é um sinônimo de algo patológico.
Uma das consequências que mais refletem o envelhecimento cerebral são as alterações relacionadas à capacidade de concentração e de memória do indivíduo. Isso está diretamente atrelado ao fato de haver uma perda de massa cerebral ao longo do processo de envelhecimento, sendo que essa perda é gradual e ocorre com um saldo negativo de, em média, quatro gramas e meia de massa encefálica a cada ano, a partir da quinta década de vida.
Seguindo esse raciocínio, podemos concluir que, aos cem anos de vida, uma pessoa terá perdido o que corresponderia a cerca de vinte por cento de toda a sua massa cerebral da vida adulta, o que sugere que obviamente aos cem anos, nenhum indivíduo apresentará as mesmas capacidades físicas e mentais de quando era adulto, muito embora esse fato não seja necessariamente um fator determinante para a ocorrência de patologias, por exemplo.
Juntamente com a perda da massa do cérebro, de uma maneira geral, há perda de células nervosas, que são os chamados neurônios. Isso porque essas células podem tanto sofrer a chamada apoptose, que é simplesmente a sua destruição, ou porque podem apenas reduzir de tamanho, o que afeta o seu funcionamento. Além disso tudo, pode ocorrer a deposição de determinadas substâncias, como a chamada proteína amiloide, por exemplo, que é uma possível causadora de alguns tipos de demência. Na demência também pode ocorrer os emaranhados Neurofibrilares, que se instauram principalmente nas regiões do hipocampo. Um outro fator que pode gerar patologias durante o envelhecimento do cérebro é a ocorrência de pequenos derrames em alguns locais, que são os chamados achados microvasculares, sendo que acabam sendo muito mais frequentes em pessoas que apresentam hipertensão arterial sistêmica não controlada ou mau controlada.
O que é bastante importante é diferenciar um envelhecimento normal de um envelhecimento patológico, sendo que, às vezes, isso pode ser algo complicado, principalmente quando as patologias se encontram no seu início, como ocorre no caso da doença de Alzheimer, por exemplo, porque não existe um marcador ou um exame específico que faça o diagnóstico de maneira certeira, o que faz com que por um determinado período haja apenas uma hipótese diagnóstica da doença. Em um idoso que apresente um envelhecimento cerebral normal, a ocorrência de perda de memória ocorre, primeiramente, com relação às memórias chamadas de operacional e de secundária, que é a memória recente, do que às memórias primária, que é a memória imediata e a terciária, ou também chamada de memória remota, que é o que ocorre logo no início da doença de Alzheimer.
Nesse sentido, as funções que mais se alteram são o novo aprendizado, ou seja, a pessoa fica incapaz de absorver novas informações, praticar novos movimentos ou, até mesmo, promover a repetição de números em ordem de trás para a frente, por exemplo, além de nomes, lugares, caminhos que haviam sido aprendidos recentemente irem gradativamente se perdendo, ao longo do tempo, com a progressão da doença. Já, por outro lado, as informações retidas há mais tempo e tarefas que já estejam instituídas na rotina e que geralmente fazemos de maneira automática, se mantêm, por determinado período de tempo, intactas, até que a doença comece a se agravar.
O envelhecimento do cérebro, de uma maneira geral, gera alterações na memória prospectiva, que nada mais é do que o “lembrar de lembrar”, sendo que o segundo tipo de memória que é afetada em decorrência do envelhecimento é a memória de evocação livre e retardada, sendo que o teste de avaliação da evocação retardada, que é a que se dá entre quinze e trinta minutos, é um dos mais realizados na tentativa de diferenciar a falha de memória própria do envelhecimento da falha de memória patológica, em decorrência da doença de Alzheimer.
Com relação à fala e à linguagem, o envelhecimento normal não gera alterações nessas funções, além de o chamado processamento sintático também permanecer relativamente preservado. Há, no entanto, uma determinada dificuldade em realizar discursos, principalmente no que diz respeito à narrativas, como ao contar um fato que ocorreu, por exemplo, contendo inferências e interpretação moral, que é o que, na realidade, fica prejudicado. Devido a isso, algumas informações, inclusive, podem acabar sendo omitidas de maneira não intencional, o que gera a necessidade de os idosos estarem sempre acompanhados de alguém mais novo e responsável, que o acompanhe no dia a dia, em suas consultas médicas, por exemplo. A omissão de passos durante a realização de uma determinada atividade também pode ocorrer, mas de maneira um pouco mais incisiva do que pessoas novas acabam esquecendo de maneira esporádica.
O que os exames de imagem muitas vezes nos mostram e que podem estar diretamente relacionados ao envelhecimento do cérebro são a hipoperfusão nas regiões do hipocampo e entorrinais, que sugerem algo patológico, como a doença de Alzheimer, mas que também podem ocasionalmente estar presentes em pessoas que não apresentam os sintomas. Isso demonstra o quão tênue é a linha entre o que seria o envelhecimento normal e patologias diretamente relacionadas ao envelhecimento do tecido do cérebro. Além disso, em fases iniciais da doença de Alzheimer, os exames de imagem podem se dar sem nenhuma alteração digna de nota e que sugira o diagnóstico de maneira direta. Logo, é fundamental que os acompanhamentos sejam feitos sempre com a realização de comparações dinâmicas entre a clínica, que são os sintomas e o exame físico geral, com os exames complementares, que são basicamente os de imagem, para esse caso.
Ainda é incerto o método e hábitos de vida exatos que promovem o retardo do envelhecimento do cérebro e que, consequentemente, prolongue a vida. No entanto, grandes estudos mostram os benefícios de se levar uma vida saudável para o melhor funcionamento de todos os sistemas do nosso organismo, de uma maneira geral, inclusive o sistema nervoso central, representado principalmente pelo cérebro.
A alimentação é algo já consagrado como fundamental para uma boa saúde, além da realização de atividades físicas regulares, uma vez que elas promovem uma perfusão sanguínea melhor de todos os órgãos, e a busca contínua por conhecimento e aprendizagem, pois o estímulo é sempre bom para manter o funcionamento do cérebro. Uma outra questão que aponta também para o adiamento do envelhecimento cerebral é o descanso, isto é, é fundamental que se durma bem, para que as informações importantes sejam processadas e guardadas de uma maneira mais eficaz, sendo necessárias noites de aproximadamente sete a oito horas de sono, pelo menos.
Os fatores estressores devem ser retirados ou afastados, como drogas depressoras, que gerem perturbação ou que promovam o desestímulo do cérebro, pois, de uma maneira geral, elas tendem a comprometer a memória, além de acelerarem o envelhecimento da massa cerebral.
O controle preciso de doenças crônicas como hipertensão e diabetes, por exemplo, também evita que ocorram repercussões negativas em decorrência da descompensação dessas doenças e que afetem diretamente o cérebro. A depressão e a ansiedade também são doenças que devem ser tratadas com rigor, uma vez que a ansiedade pode levar a comportamentos depreciativos, como o alcoolismo ou o abuso de drogas, por exemplo, enquanto que a depressão pode gerar um sofrimento que incapacite a pessoa de realizar suas atividades diárias e cotidianas. Para isso, técnicas de psicoterapia são bastante úteis, podendo ser ajuntas ao tratamento medicamentoso, quando este é, de fato, necessário.