Aspectos Gerais Sobre a Esclerose Múltipla
A Esclerose Múltipla, também conhecida apenas pela sigla EM, é uma doença do sistema nervoso central, ainda sem uma causa de extrema evidência definida. Ainda assim, hoje já se tem como definido o fato de a EM ser uma doença autoimune e, portanto, crônica.
Por ainda não se saber o que motiva o desenvolvimento dessa doença, ela acaba sendo o tema de diversas pesquisas ao redor de todo o mundo, mas não só com relação à busca de sua causa, como também na tentativa de buscar um melhor tratamento e melhoramento da qualidade de vida das pessoas que sofrem com esse tipo de esclerose, ainda mais pelo fato de ela acometer pessoas jovens. Dentre a população mais acometida então principalmente pessoas do sexo feminino e que apresentem uma idade entre os vinte e os quarenta anos.
Além disso, o número de pessoas com essa doença é um tanto quanto razoável, uma vez que a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, a ABEM, por exemplo, estima que haja trinta e cinco mil pessoas vivendo com a Esclerose Múltipla no Brasil. Por enquanto, portanto, ainda não existe uma cura para essa doença, muito embora, cada vez mais, os pacientes tendem a se manter relativamente bem com a realização de tratamentos e mudanças do estilo de vida específicos para o controle de sua evolução.
A Esclerose Múltipla não é uma doença contagiosa e, o que é de suma importância ressaltar é o fato de, principalmente, ela não ser uma doença mental, ou seja, é uma doença do sistema nervoso central, mas que não afeta direta e unicamente as funções cognitivas da pessoa que sofre com ela. Ademais, até o momento, ainda não há nada que impeça que uma pessoa desenvolva essa doença, ou seja, não há uma prevenção, muito embora haja tratamento para evitar as crises, quando ela se apresenta nessa modalidade.
Quais São as Formas De Apresentação Da Esclerose Múltipla?
A esclerose múltipla apresenta, basicamente, três formas de apresentação clínica e que são as seguintes: a forma remitente recorrente, a forma primariamente progressiva e a forma secundariamente progressiva.
A primeira delas tem a sua evolução em forma de surtos muito bem definidos pelos pacientes, isto é, que apresentam sintomas claros, bem estabelecidos e temporários, ou seja, esses sintomas apresenta uma total remissão após o término do surto, que também é chamado por alguns como crises. Esse surto ou crise nada mais é do que uma forma de exacerbação da doença, uma agudização da doença que já é crônica e que geralmente tem a duração de cerca de um dia ou mais. Cada surto deve ocorrer com um mínimo de um mês entre um e outro, para ser considerado mais de um surto.
Sendo assim, a forma remitente recorrente de apresentação não deixa sequelas no indivíduo, o que permite que ele siga realizando todas as suas atividades cognitivas e motoras de maneira normal após o fim do surto.
Já a forma primariamente progressiva da esclerose múltipla, ocorre desde sempre, isto é, desde a primeira manifestação da doença, uma progressão que pode ser considerada contínua, muito embora, possam existir momentos de flutuações ou até mesmo de platôs que geralmente ocorrem ocasionalmente e que podem durar alguns dias com uma espécie de “piora”.
Com relação à última forma de apresentação da esclerose múltipla citada aqui, a secundariamente progressiva, ela apresenta um início bastante parecido com a forma remitente recorrente de apresentação, mas que, ao longo de sua evolução, acaba se tornando progressiva e adquirindo um aspecto evolutivo mais parecido com a forma primariamente progressiva, mas apresentando uma progressão com pouquíssimas remissões e platôs, quando eles estão presentes, bem mais discretos do que podem ocorrer na forma primariamente progressiva.
Quais São Os Principais Sintomas Do Paciente Com Esclerose Múltipla?
Os sintomas relacionados à evolução da Esclerose Múltipla são sistêmicos e gerais, como fadiga intensa, disfunções intestinais, dores generalizadas nas articulações, disfunções vesicais, isto é, no sistema urinário, depressão, fraqueza muscular e, em casos mais severos, falta de equilíbrio e de coordenação motora.
Com relação à fadiga, ela não está relacionada a nenhuma atividade intensa e, se está relacionada a algum esforço físico, o sintoma não é proporcional à atividade que foi realizada, uma vez que, por muito pouco, os pacientes chegam a apresentar uma fadiga do tipo incapacitante, o que pode acabar incrementando a depressão, uma doença que pode se associar à esclerose múltipla justamente devido a esse sentimento de incapacidade funcional.
Dependendo do tipo de acometimento da esclerose, podem surgir algumas alterações fonoaudiológicas, visto que estas alterações podem se dar com diferentes intensidades. Na maioria das vezes, elas estão relacionadas à dificuldade de fala e de engolir, isto é, de deglutição. Dentre as mudanças e dificuldades de fala que ocorrem ao longo da progressão dessa doença, é mais comum que ocorra um efeito de tremor da voz, que pode ou não estar acompanhada da lentificação da fala, fazendo com que a pronúncia das palavras seja arrastada. Já com relação às dificuldades de deglutição, podem ocorrer tanto para líquidos quanto para sólidos, dependendo da gravidade.
Quais Alterações Visuais E Mentais Podem Ocorrer Na Esclerose Múltipla?
Dentre as alterações no sentido da visão, o que mais pode ocorrer é a visão dupla, que é chamada de diplopia, ou a visão embaçada, apesar de em alguns casos mais graves a pessoa poder ficar temporariamente ou não com a ausência total da visão em um ou ambos os olhos.
Isso pode ocorrer porque, algumas vezes podem ser afetados alguns nervos que se relacionam com a movimentação dos olhos, ou seja, alguns pares dos chamados nervos cranianos, cujos núcleos estão situados em regiões específicas do encéfalo, podem ser afetados em seu próprio núcleo ou em parte de seu percurso até chegar no órgão afetado, que no caso são os olhos.
No que diz respeito às alterações do estado mental, muito embora já tenha sido aqui comentado o fato de que a esclerose múltipla não se trata de uma doença mental, algumas alterações com relação à memória, por exemplo, podem ocorrer. Isso pode acabar comprometendo a capacidade de a pessoa conseguir realizar tarefas simples do dia-a-dia, por exemplo, como se levantar da cama e trocar de roupa, por exemplo. Essas alterações com relação à funcionalidade da pessoa infelizmente podem acabar gerando uma dependência dela sobre outras pessoas.
Uma outra característica dessas alterações que poderiam ser classificadas como disfunções do estado mental do indivíduo é o fato de elas não dependerem e não serem necessariamente proporcionais às alterações físicas ou motoras que podem ocorrer conjuntamente. Ou seja, muito embora a pessoa consiga movimentar de maneira correta um determinado membro para a realização de uma determinada tarefa, essa movimentação pode estar um tanto quanto lenta devido às alterações do estado mental e não da coordenação em si, muito embora na grande maioria das vezes essas duas vertentes se encontram alteradas de maneira simultânea.
A Esclerose Múltipla Pode Gerar Transtornos De Caráter Sexual?
Conforme já citado, a esclerose múltipla é uma doença que pode afetar o organismo de maneira sistêmica, o que inclui todas as funções daquele indivíduo. Dessa maneira, dependendo do grau de acometimento do sistema nervoso, podem, sim, haver repercussões negativas no que diz respeito às funções sexuais daquela pessoa.
Assim como ocorre com os demais sistemas, essas alterações podem ser tanto sensitivas quanto motoras, isto é, algumas pessoas podem desenvolver uma diminuição ou até mesmo ausência da função sensitiva do períneo, o que de uma maneira óbvia irá consequentemente interferir no desempenho sexual daquela pessoa, visto que os estímulos sensitivos na região dos órgãos genitais é uma das maneiras principais de estimular o ato sexual em si.
Isso porque as alterações sensitivas influenciam de modo direto na capacidade de lubrificação do órgão, principalmente no sexo feminino, enquanto que as alterações de caráter mais motor, o que está mais relacionada à dificuldade de ereção do pênis, obviamente acabam atingindo os indivíduos do sexo masculino.
Outras Alterações Motoras Que Podem Aparecer No Indivíduo Com Esclerose Múltipla
A chamada espasticidade que ocorre em grande parte dos indivíduos com esclerose múltipla nada mais é do que um tipo de rigidez que pode ocorrer em um ou mais membros e que se pode ser observada também em outras doenças. No entanto, no caso da espasticidade relacionada à esclerose múltipla, essa rigidez ocorre muito mais em membros inferiores do que nos membros superiores, o que acaba afetando em muito a capacidade de o indivíduo se locomover sem a ajuda de alguém ou de algum equipamento.
Podem ocorrer ainda com uma maior intensidade nos membros inferiores a dor e a chamada parestesia, que é uma alteração sensitiva e subjetiva, podendo ser descrita como um aperto, formigamento, sensação de pinicar, dentre outros.
Algumas alterações na manutenção do equilíbrio e também no caminhar do indivíduo, o que também é chamado de marcha, podem ocorrer, juntamente com as alterações gerais de coordenação motora. A ataxia, que nada mais é do que a instabilidade ao caminhar, faz com que a pessoa ande com as pernas mais afastadas do que o normal, o que é tecnicamente denominado de alargamento de base na marcha, muito embora essa reestruturação corporal não impeça totalmente que o indivíduo caia, devido às alterações generalizadas da manutenção do equilíbrio.
Junto a isso, já é de se imaginar que haja vertigens e tonturas, o que podem ou não virem acompanhados de náuseas e até mesmo episódios de vômitos. Os tremores também podem ser comuns, o que dificulta ainda mais a realização de movimentos ditos finos, como a escrita e a preensão de objetos, por exemplo.
Alterações De Caráter Emocional Nos Pacientes Com Esclerose Múltipla
Dada todas essas alterações funcionais que podem se desenvolver no paciente com esclerose múltipla, já é de se imaginar o fato de que é bastante comum que a grande maioria deles apresente também, de maneira concomitante à evolução da doença, alterações e problemas sérios de natureza emocional.
Isso porque a debilidade, a fraqueza generalizada e, consequentemente, a dependência de terceiros para a realização de atividades básicas do dia-a-dia é uma realidade precoce para muitas das pessoas com esclerose múltipla, o que acarreta certamente as condições psicológicas do indivíduo. A depressão, que inclusive já foi citada aqui nesse texto anteriormente, é uma das principais comorbidades relacionadas a todo e qualquer paciente com qualquer tipo de doença crônica, visto que o impacto da doença no papel social daquela pessoa costuma ser muito grande.
Sendo assim, o esperado é que o indivíduo que sofre com esse tipo de doença, tenda a se excluir das comunidades sociais e a permanecer recluso, o que pode agravar ainda mais a doença, uma vez que por ser autoimune, acaba se relacionando diretamente com os níveis de diversas substâncias moduladoras das emoções, como a serotonina e a noradrenalina, por exemplo.
Apesar disso, as alterações no quesito emocional podem ser diversas, podendo, inclusive, haver episódios de ansiedade isolados, ou que se intercale com episódios de depressão, configurando em um transtorno bipolar, que evolui com flutuações de episódios maníacos e depressivos, em ciclos. Além disso, alterações de humor mais simples e menos graves também podem ocorrer, como a irritabilidade que, por sua vez, pode acabar gerando um aumento da agressividade, o que dificulta de maneira demasiada a relação e o cuidado para com o indivíduo com esclerose múltipla.