Câncer de Bexiga
O câncer de bexiga é uma doença onde há o crescimento descontrolado de um tecido de células cancerosas no revestimento do órgão bexiga. Em alguns casos mais graves o câncer se espalha para o músculo da bexiga.
Uma vez diagnosticado, o câncer de bexiga pode ainda ser classificado de acordo com o nível, que corresponde ao quanto ele se espalhou, ao tamanho do tecido canceroso formado. Se as células doentes estão limitadas dentro do revestimento da bexiga ele é considerado como câncer de bexiga não invasivo. Neste caso geralmente não há risco de morte do paciente e é o tipo mais comum de todos os cânceres de bexiga.
Se o câncer se espalhou para além do revestimento interno da bexiga, então ele é considerado como câncer de bexiga com invasão muscular. É menos comum e pode ter grandes chances de se espelhar para outros órgãos do corpo.
Quando o câncer se espalhou para outros órgãos, então ele é considerado como câncer de bexiga avançado, ou metastático.
Causas
A causa nem sempre é conhecida, mas geralmente está relacionado à exposição à certos produtos químicos.
Fumar é a maior causa dos casos de cânceres de bexiga. As estatísticas mostram que o cigarro é o causador de mais de trinta por cento dos casos. E isso é explicado pela fisiologia. O cigarro possui uma infinidade de substâncias químicas em sua composição que são cancerígenas, ou seja, causadoras de mudanças nas células tornando-as células cancerosas. Ao fumar, as substâncias químicas parram para a corrente sanguínea.
O sangue é filtrado pelos rins e a bexiga serve como depósito de urina filtrada. Ou seja, a bexiga fica constantemente exposta às substâncias que os rins filtram do sangue. Com o tempo os tecidos de revestimento interno da bexiga começam a sofrer a influência das substâncias e as células se tornam cancerosas. É estimado que pessoas que fumam têm quatro vezes mais chances de desenvolver câncer de bexiga do que pessoas que não são fumantes.
Outras causas envolvem a exposição à certos produtos químicos industriais. A maioria inclusive foi proibida a alguns anos. Entretanto os efeitos ainda são sentidos pois o câncer pode começar a se desenvolver muitos anos (até 30) após a exposição à certas substâncias. Estudos mostram que a exposição à certas substâncias industriais são responsáveis por cerca de ¼ dos casos de cânceres de bexiga.
Dentre esses produtos, podemos citar: tinturas de anilina, 2-naftilamina, 4-aminobifenil, xenilamina, benzidina, o-toluidina. E essas substâncias são/eram encontradas em fábricas que trabalhavam com produção de corantes, borrachas, tintas, plásticos, couro, também em indústrias têxteis, dentre outras.
Há também um grande responsável por casos de cânceres de bexigas que é o diesel. A fumaça do diesel contém substâncias químicas nocivas que podem causar câncer de bexiga, então empregos que expõem a pessoa à esta fumaça estão ligados a casos de câncer de bexiga. Dentre eles estão os taxistas, caminhoneiros e motoristas e cobradores de ônibus.
Outros fatores também podem aumentar o risco de desenvolvimento de tecido canceroso na bexiga. Dentre eles, estão: radioterapia para cânceres próximos, medicamentos quimioterápicos, como a ciclofosfamida e a cisplatina, diabetes tipo 2, presença de cateter urinário por muito tempo, infecções urinárias frequentes, pedras na bexiga por longo tempo, menopausa precoce e esquistossomose não tratada.
Sintomas
Procure um médico caso ocorra de você ter sangramentos na urina, mesmo que o sangramento não seja constante. Isso deve ser investigado pois pode se tratar de um caso de câncer na bexiga. Isso não significa que é, mas pode ser, e o câncer, quanto mais cedo for diagnosticado, mais chances de cura tem.
Alguns condições de saúde também podem indicar a presença de um tecido canceroso na bexiga, dentre elas: infecção urinária, como cistite, infecção nos rins, pedra nos rins, uretrite, próstata aumentada.
Os sintomas do câncer de bexiga são, além do sangramento ao urinar:
- Necessidade de urinar frequentemente
- Necessidade repentina de urinar
- Sensação de ardor ao urinar
- Dor pélvica
- Dor no osso
- Perda de peso inexplicada
- Inchaço nas pernas
Diagnóstico
Exame Clínico
Ao procurar um médico, ele irá fazer o exame clínico que envolve uma pesquisa detalhada sobre o histórico familiar e de saúde do paciente. Isso significa que ele irá perguntar sobre produtos que causam câncer de bexiga, como o cigarro e também sobre o histórico de doenças na família. Um exame físico também poderá ocorrer, no qual o médico irá investigar o reto e a vagina, já que o câncer de bexiga pode causar um nódulo perceptível que dá pra sentir nesses locais.
Amostra De Urina
O médico irá então solicitar alguns exames caso desconfie que o caso possa ser de um câncer na bexiga. Primeiramente será solicitada uma amostra de urina para detectar infecções e células anormais.
Citoscopia
A citoscopia é um exame que envolve um tubo fino com uma câmera e luz na ponta chamado de citoscópio. Esse aparelho parra pela uretra e chega ao interior da bexiga. Antes do exame é aplicado um gel anestésico local que também auxilia no deslizamento do tubo. É um exame simples e rápido e dura cerca de cinco minutos.
Tomografia Computadorizada E Ressonância Magnética
A tomografia computadorizada ou a ressonância magnética podem ser solicitadas em casos que necessitam de um detalhamento maior da condição dos tecidos da bexiga. Neste procedimento pode também ser feito um urograma intravenoso, onde um corante é injetado na corrente sanguínea e raios-x são usados para mostrar como ele passa pelo sistema urinário.
Resseção Transuretral De Tumor Na Bexiga (turbt – Sigla Em Inglês)
Esse procedimento nada mais é do que uma biópsia. Se na citoscopia forem encontradas anormalidades, então o médico irá solicitar este procedimento. Ele é realizado sob anestesia geral, por isso não é tão simples. E, seis meses depois de ser realizado o primeiro TURBT, poderá ser solicitado outro em que amostras do tecido muscular da bexiga são retiradas, para casos em que o câncer pode ter avançado para além do tecido de revestimento. Após o procedimento o paciente recebe uma dose quimioterápica pois isso evita o retorno do câncer.
Classificação
Após a realização dos devidos exames e procedimentos para confirmar o câncer de bexiga, é possível determinar o grau em que está o tumor. E isto na realidade é essencial para que o médico determine o melhor tipo de tratamento ou combinação de tratamentos para eliminar completamente o tecido canceroso. Isso se chama estadiamento.
A classificação não determina exatamente o nível em que o câncer está, mas sim a probabilidade deste se espalhar para o próximo nível. O sistema de cestadiamento para esse câncer é chamado de TNM, onde T significa até que ponto o tumor cresceu, N indica se ele se espalhou para gânglios linfáticos próximos e M se ele se espalhou para outros órgãos e se tornou uma metástase.
- TIS OU CIS: Câncer precoce de alto grau confinado à parede interna do revestimento da bexiga.
- Ta: Células cancerosas presentes apenas no revestimento interno da bexiga.
- T1: Células cancerosas no tecido de revestimento interno e no tecido conjuntivo.
- T2: A partir desse estágio o câncer não é mais classificado como inicial, mas sim invasivo. Aqui as células cancerosas estão presentes também no tecido conectivo do músculo da bexiga.
- T3: Câncer cresceu para além dos músculos da bexiga e atingiu o tecido de gordura.
- T4: Aqui o câncer não é mais invasivo e já é classificado como avançado. O câncer se espalhou para fora da bexiga, atingindo órgãos adjacentes.
- N0: Não há células cancerosas em nenhum dos gânglios linfáticos.
- N1: Presença de células cancerosas em um dos gânglios da pélvis.
- N2: Células cancerosas em dois ou mais gânglios da pelve.
- N3: Células cancerosas presentes em um ou mais gânglios linfáticos no fundo da pélvis.
- M0: Câncer presente apenas na bexiga.
- M1 Câncer presente em outros órgãos e tecidos além da bexiga.
Tratamentos
Os tratamentos para o câncer de bexiga serão decididos pelo médico ou pela equipe médica pela qual o paciente está tendo acompanhamento. Esta equipe pode envolver muitos profissionais, dentre eles pode estar um urologista, um oncologista, um patologista e um radiologista. A equipe estuda e decide a melhor forma de tratamento mas a escolha final é sempre do paciente. Por isso é interessante que ele tenha contato com um especialista clínico em enfermagem, para que ele faça a ponte entre esses especialistas e o paciente e o ajude a decidir.
Cirurgia
A cirurgia é a remoção do tecido canceroso e de alguns tecidos saudáveis próximos durante algum procedimento. Algumas opções de procedimentos que podem ser realizados incluem a ressecção do tumor da bexiga transuretral (TURBT), onde sob anestesia geral, um cirurgião insere um citoscópio na uretra e usa um laço de arame para remover os tecidos desejados da bexiga.
Há também a cistectomia radical e dissecção de linfonodos. Nesta operação o cirurgião faz várias incisões ou cortes e usa equipamentos para remover a bexiga ou parte dela (cistectomia parcial). O cirurgião pode também remover tecidos e órgãos próximos dependendo do caso. Nos homens a próstata e a uretra podem ser removidas e nas mulheres o útero, as trompas de falópio, os ovários e parte da vagina podem ser removidos. Mas nos dois casos os linfonodos da pelve são removidos, além da bexiga.
Após a realização de uma cirurgia onde a bexiga é removida, muita coisa muda na vida do paciente. Cada caso é um caso, mas é fato que o desvio urinário deve ser feito, já que não há mais o órgão de retenção da urina. Há a opção de usar uma parte do intestino delgado para desviar o fluxo de urina e nesse caso o paciente deve usar uma bolsa ou dreno para coletar a urina. Também há muitos outros procedimentos para pacientes que vivem sem a bexiga, como o uso do neobladder ou bolsa indiana. Também o uso de cateteres ou de uma bolsa interna feita de intestino delgado, dentre outras opções.
Efeitos Colaterais
Viver sem a bexiga não é tão simples então os médicos tentam sempre encontrar uma maneira alternativa à remoção deste órgão, como por exemplo o tratamento com quimioterapia e radioterapia. Os efeitos colaterais da remoção da bexiga são muitos e incluem infecções, demora na cicatrização, sangramentos e desconfortos pós-cirúrgicos, problemas de ereção nos homens, perda de sensação sexual e orgasmos em homens e mulheres, etc.
Quimioterapia
Esse tratamento envolve o uso de drogas artificiais para destruir células cancerosas. Normalmente agem impedindo o crescimento destas, ou seja, pausando o processo de mitose deste tecido anormal. Existem dois tipos de quimioterapia e quem vai indicar a melhor é o médico. A quimioterapia pode envolver o uso de um ou uma combinação de vários medicamentos.
Na quimioterapia intravesical o urologista insere um cateter na uretra e por ele os medicamentos chegam à bexiga. Os medicamentos mais usados são a mitomicina-C, a gemcitabina e a tiotepa.
Na quimioterapia sistêmica o paciente recebe oralmente as drogas. Dentre elas estão a cisplatina e a gemcitabina, a carboplatina e a gemcitabina, MVAC, Dose-denso (DD).
Efeitos Colaterais
Os efeitos colaterais da quimioterapia variam de pessoa para pessoa e também de qual droga está sendo administrada. Mas de forma geral os pacientes costumam sentir muita fadiga e náuseas com vômitos, riscos de infecções, perda de cabelo, perda de apetite e diarreia.
Imunoterapia
A imunoterapia, também chamada de terapia biológica, é um tipo de tratamento que visa fortalecer e aumentar consistentemente o sistema de defesa do corpo para que ele possa destruir os tumores. Ela pode ser feita localmente ou sistêmica, assim como a quimioterapia. Localmente ela é feita de forma intravesical.
Na terapia local pode são usados dois tipos principais de medicamentos. O BCG, uma bactéria enfraquecida que é semelhante à causadora da tuberculose, é inserida na bexiga e ela se liga ao revestimento interno. Isso faz com que o sistema imunológico tente destruir o tumor neste local. O interferon (Roferon-A, Intron-A e Alferon), combinado ou não com a BCG também funciona da mesma forma.
A terapia sistêmica utiliza inibidores do checkpoint imunológico. Isso significa que são administradas drogas que bloqueiam a proteína PD-1, que impede que o sistema imunológico destrua células cancerosas. Bloqueando essa proteína o corpo consegue responder ao crescimento desses tecidos anormais, combatendo o crescimento dos cânceres. Os medicamentos são: Atezolizumab, nivolumab, avelumabe, durvalumabe, pembrolizumab.
Efeitos Colaterais
O uso da BCG pode causar calafrios, febre baixa, fadiga, queimação na bexiga, sangramento na bexiga.
A terapia sistêmica pode causar reações na pele, calafrios, febre, dores no corpo, fadiga, diarreia, alterações no peso.
Terapia Direcionada
Há um teste específico aprovado pela FDA para descobrir pessoas que podem se beneficiar com a terapia direcionada. Esse tratamento consiste em atingir os genes específicos relacionados ao câncer e as proteínas e fatores envolvidos no tecido do tumor. A droga bloqueia o crescimento das células alteradas contribuindo para a sobrevivência dos tecidos saudáveis próximos.
Para o câncer de bexiga o medicamento mais indicado é o Balversa (Erdafitinib). Administrado oralmente ele age nas mutações nos genes FGFR3 ou FGFR2. Mais pesquisas estão sendo realizadas a respeito deste tipo de terapia e mais medicamentos estão sendo prescritos e indicados. O ideal é conversar com o médico e perguntar se é uma boa opção, se vale a pena.
Efeitos Colaterais
O uso do Balversa pode causar feridas na boca, cansaço e fadiga, alterações nas funções renais, diarreia, boca seca, má formação das unhas, problemas na função hepática, diminuição do apetite, alteração do paladar, anemia, ressecamento na pele e nos olhos, queda de cabelo. Também, em casos mais raros, pode causar problemas oculares como pontos cegos.
Radioterapia
A radioterapia é um tratamento onde é utilizada radiação de alta energia para matar as células cancerígenas. Ela é frequentemente administrada juntamente com a quimioterapia para funcionar melhor.
O tipo de radiação mais utilizada para este tipo de câncer é a radioterapia externa, ou seja, uma máquina externa ao corpo direciona feixes de radiação no local da bexiga. E isto é definido após medições exatas para determinar e encontrar os ângulos de direcionamento da máquina (isso se chama simulação).
A radioterapia dura geralmente várias semanas e é feita uns cinco dias por semana. As sessões envolvem um grande preparo anterior e exames.
Efeitos Colaterais
Os efeitos dependem da dose administrada, da quantidade de sessões e da área submetida à radiação. Esses efeitos podem ser agravados caso a radioterapia esteja sendo administrada juntamente à quimioterapia.
Podem Ocorrer:
- Vermelhidão, bolhas e descamação da pele na área que recebeu a radiação.
- Náuseas e vômitos.
- Dor ou ardência ao urinar.
- Frequência de urinar.
- Sangramento ao urinar.
- Sangramento ao evacuar.
- Cansaço e fadiga.
- Contagem sanguínea baixa (maior propensão à hematomas e risco de infecção).
Em Casos Raros:
- Incontinência urinária.
- Danos ao revestimento da bexiga.
- Danos à nervos e vasos sanguíneos nas áreas próximas à bexiga, podendo por exemplo causar problemas de ereção em homens.
Cuidados Paliativos (para Casos Onde O Tratamento Não Funcionou)
Esses cuidados envolvem uma infinidade de formas de melhorar a qualidade de vida nos anos finais. Ou seja, em alguns casos o câncer não pode ser contido e curado. E então o paciente receba a notícia de que tem um certo tempo de vida pois o tumor irá tomar conta de órgãos vitais.
O paciente será encaminhado para um equipe de cuidados paliativos, que envolvem terapias, medicamentos e alguns tratamentos para melhorar e amenizar os sofrimentos que um câncer em estágio terminal causa. Por exemplo aliviar as dores e evitar a depressão. Para isso serão indicados profissionais como terapeutas, nutricionistas e oncologistas, etc.