De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a OMS, a dependência química é definida como sendo o “estado psíquico e algumas vezes físico resultante da interação entre um organismo vivo e uma substância, caracterizado por modificações de comportamento e outras reações que sempre incluem o impulso a utilizar a substância de modo contínuo ou periódico com a finalidade de experimentar seus efeitos psíquicos e, algumas vezes, de evitar o desconforto da privação”.
Nessa linha de definição, o Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana, o DSM, na edição IV, define a dependência química como uma má adaptação ao uso de certas substâncias, que acaba por levar o indivíduo a algum tipo de prejuízo, seja ele físico ou psíquico.
Ainda de acordo com o DSM-IV, para uma pessoa se enquadrar como uma dependente química, ela deve apresentar pelo menos três dos seguintes critérios, dentro de um período de doze meses: a existência de tolerância, que se configura como uma necessidade de quantidades cada vez maiores da substância para a obtenção de um mesmo efeito inicial; o sentimento de abstinência, que nada mais é do que uma síndrome caracterizada por sinais e sintomas que vão variar de acordo com a substância a qual se sente abstinência, mas que são aliviadas pelo consumo dessa mesma substância; o prolongamento do consumo, tanto em períodos quanto em quantidades, de maneira progressiva; a redução do círculo social do indivíduo que faz uso da substância em questão, em decorrência do uso; o intenso e persistente desejo de utilizar a substância e a incapacidade de controlar esse desejo; e a persistência do uso da substância, mesmo após a observação de prejuízos clínicos.
São vários os fatores que interferem e que definem a dependência química, sendo essa um processo complexo, que pode sofrer inúmeras variáveis, dependendo da pessoa e da própria substância. É por isso que não existe uma etiologia em comum que contemple todos os dependentes químicos ou todos os tipos de substância que se pode adquirir dependência química.
De uma maneira geral, a dependência química apresenta três fatores variáveis, mas que teoricamente são fundamentais para a instalação desse problema: o meio ou o ambiente em que a pessoa está inserida, a substância em questão e seus efeitos químicos nos seres humanos e o próprio indivíduo que se encontra na dependência.
Com relação ao ambiente em que o indivíduo se insere é importante observar a disponibilidade dessa substância nesse meio, que facilitará ou dificultará o acesso e também o que a utilização dessa substância específica significa naquele determinado local, isto é, se o uso dessa substância remete a alguma espécie de símbolo naquele lugar e qual a importância que a sociedade local em questão dá a essa situação, ao uso daquela substância.
Já com relação à substância propriamente dita, ela é o segundo fator mais variável, perdendo apenas para o indivíduo. Isso porque ao pensar na substância que provoca a dependência química, temos que levar em consideração uma série de fatores que são extremamente variáveis, sendo que o principal é a sua composição. De uma maneira geral, devido ao fato de ser oferecida por milhares de fornecedores, um mesmo tipo de droga ou de substância química pode ser encontrada com diversos aditivos diferentes ou não, mas em concentrações infinitamente variáveis, que muitas vezes são implementadas para aumentar ou diminuir o efeito daquela substância, bem como aumentar ou diminui a sua capacidade de causar dependência no indivíduo. Há, ainda, substâncias que são adicionadas pura e simplesmente para “fazer volume” e diminuir a concentração da substância que causa os efeitos desejados, para fazer com que ela tenha maior rentabilidade e, portanto, fazer com que o fabricante possa produzir mais com menor quantidade do produto em questão.
Outras características do produto que devem ser consideradas são a sua forma de apresentação, o que podemos relacionar com a facilidade ou não tanto de disponibilidade quanto de consumo, o que facilita ou dificulta seu uso pelo dependente, além do potencial causador de dependência, que já foi citado anteriormente, e os efeitos que a substância provoca no organismo humano, que pode variar de indivíduo para indivíduo, mas que podem ser separadas em grupos de efeitos generalizados, que é o que um dos fatores que definem a escolha ou predileção do indivíduo por uma ou por outra substância química. No que diz respeito às propriedades químicas, o principal fator que determina a capacidade da substância de agir rapidamente e de causar maior ou menor efeito, além do chamado potencial de abuso, é a sua lipossolubilidade. Outro fator é meia-vida, que vai determinar o período de ação daquela substância, ou seja, substâncias com uma meia-vida menor têm seu efeito passageiro e, portanto, podem causar efeitos de abstinência mais graves e intensos do que substâncias químicas que apresentam maior meia-vida.
De uma maneira geral, as substâncias químicas são divididas em três grupos, de acordo com a sua ação geral no organismo do indivíduo. Temos as substâncias que estimulam o sistema nervoso central, que provocam tanto o aumento da atividade do sistema nervoso central, como o próprio nome já diz, quanto o aumento das atividades realizadas pelo sistema nervoso autônomo, o que faz com que o indivíduo apresente exaltação de humor, aceleração de fala e de pensamento, bem como vasoconstrição, taquicardia e o aumento da pressão arterial. Os principais estimuladores são a cocaína, as anfetaminas, a cafeína, o ecstasy, a nicotina e o crack.
Dentre as principais drogas que reduzem as atividades do sistema nervoso central, isto é, que causam uma depressão das atividades do cérebro, temos, além do álcool, os opioides, os solventes e os benzodiazepínicos de uma maneira geral. Além dessas, há as substâncias químicas perturbadoras do sistema nervoso central, como a maconha, os cogumelos, o ecstasy e o LSD, que fazem com que o indivíduo perca a percepção da relação tempo-espaço, além de fazer com que a pessoa alucine, isto é, veja, ouça e sinta coisas que na realidade não estão acontecendo.
A última variável, mas não menos importante é a do indivíduo que, como já foi citado anteriormente, é o fator de maior complexidade dentro do tripé da dependência química, uma vez que a relação de cada um com cada tipo de substância nunca será igual, principalmente por conta dos fatores genéticos, sociais, biológicos e também os fatores chamados de psicodinâmicos. Com relação a esses fatores, podemos dizer que apenas parte do processo de dependência química pode ser explicada pelos genes dos indivíduos e o que mais interfere é a expressão genética em si, que irá ocorrer ou não a partir de interferências biológicas e de interferências externas também.
Fatores biológicos como a disponibilidade de sítios cerebrais de cada pessoa para aquela substância específica também é um dos principais fatores que desencadearão ou não a dependência química. Com relação aos fatores psicodinâmicos, temos a inserção do indivíduo no meio em que ele vive, que pode provocar alterações em sua percepção no mundo e que favorecerão ou não sua relação com a substância. Isso está muito relacionado com a estruturação do ego do indivíduo, que faz com que ele acabe se sentindo bem apenas diante do consumo da substância a qual ele se tornou dependente.
A sexualidade dos seres humanos está relacionada à energia que cada indivíduo possui para procurar pela satisfação a partir de um contato com outro indivíduo. Esse contato pode ser o ato sexual em si, toques, beijos, carícias ou até mesmo a demonstração de afeto, intimidade e de auto manipulação. Entendemos que todas essas questões influenciam os pensamentos e também a saúde do indivíduo em questão, sendo que a saúde a que nos referimos pode ser tanto biológica quanto psíquica.
Sendo assim, diversos fatores podem influenciar na sexualidade dos seres humanos, inclusive as drogas/ abuso de substâncias químicas e sua dependência. Cada substância química influenciará na sexualidade do indivíduo de maneira diferente, uma vez que cada uma atua biologicamente de uma maneira diferente dentro do organismo humano.
O álcool, por exemplo, influencia na sexualidade com um caráter desinibidor, isto é, faz com que o indivíduo atue de uma maneira que não atuaria se não estivesse sob seu efeito, como a coragem para se aproximar de alguém, para falar ou fazer algo. Se o consumo ficar até um determinado limiar, ele favorece a performance sexual. No entanto, se o consumo for muito alto, há prejuízo tanto na fase de excitação quanto na fase de relaxamento, podendo até mesmo causar sonolência extrema, que promove a diminuição do desejo sexual.
O ecstasy ou a chamada “bala” é apelidada por muitos como a “pílula do amor”, uma vez que faz com que o seu usuário tenha seu interesse sexual aumentado de maneira considerável, fazendo com que as pessoas sintam a necessidade de tocar, encostar uma nas outras, abraçar, etc. Sendo assim, na realidade, ela se configura como uma droga sensorial.
Já a maconha é uma droga que em determinadas quantidades faz com que o indivíduo tenha seu prazer aumentado, fazendo com que as pessoas procurem mais parceiros sexuais, apesar de em um determinado estudo revelar a dificuldade de atingir o orgasmo após a utilização dessa substância.
A cocaína promove um aumento das atividades cerebrais e, consequentemente, promove o aumento do bem-estar, bem como da autoestima do indivíduo, fazendo com que, assim como ocorre com a utilização do ecstasy, a pessoa procure se relacionar com outras. Um consumo de quantidades muito elevadas pode piorar o desempenho sexual, isto é, sua relação com a atividade sexual é dose-dependente. Com relação à heroína, ao longo do tempo, as relações com a sexualidade vão diminuindo, uma vez que quanto mais o usuário a utiliza, menos ele procura por sexo.
As metanfetaminas estão altamente associadas à sexualidade, uma vez que ela provoca aumento da sensação de prazer e é exatamente por esse motivo que ela é bastante disseminada e inclusive procurada, principalmente entre os jovens. Justamente por esse motivo, a utilização dessa droga está muito associada à infecção do vírus HIV. Essa e outras drogas, como a GHB, por exemplo, se enquadram entre as chamadas “date rape drugs”, que significa “drogas de estupro”, em português, uma vez que fazem com que as pessoas percam o controle de seu impulso sexual e sua libido.
Há muito sobre a relação entre a utilização de drogas ou a dependência química e a sexualidade dos seres humanos. Isso porque cada droga e suas inúmeras variações podem acarretar efeitos diversos em indivíduos diferentes e em circunstâncias diferentes, por isso a importância de se lembrar do chamado tripé da dependência química, bastante discutido nesse texto.